quinta-feira, 8 de julho de 2010

Diretórios acadêmicos sofrem influência da política



Representação estudantil de Belo Horizonte, como PUC e UNI-BH, encontraram na política um ponto de apoio. Para quem acredita que jovem não envolve com o assunto nos dias de hoje, cenário mostra o contrário.



Nos anos de chumbo (1964-1985), estudantes de diretórios estudantis se mobilizavam contra um inimigo comum: o governo militar. Entretanto, nos dias de hoje, diretórios centrais dos estudantes, conhecidos como DCE’s, se transformaram em uma espécie de estágio para jovens que pretendem seguir uma carreira política. Pelo menos duas grandes instituições de ensino superior da capital mineira, Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH) e Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), sofrem, de alguma forma, influências de partidos políticos.

O atual presidente do DCE Renovação do UNI-BH, Fernando Reis, 25 anos, acadêmico do 4º período de Gestão Pública, diz não se interessar por política. “Já recebi convites de vários partidos para me tornar candidato a vereador em 2008, mas por estar decepcionado com a política, recusei o convite”. No entanto, em seu perfil pessoal do Orkut (site de relacionamento), é membro da comunidade JPSDB (juventude do partido político PSDB), o que torna sua opinião um tanto quanto contraditória.
O líder estudantil do UNI-BH diz que “já participei ativamente da JPSDB a convite do professor Aluísio Pimenta (fundador e ex-reitor da UFMG e UEMG e ex-ministro da Cultura). A proposta era formar uma juventude crítica, porém pró-positiva e fazer com que houvesse um engajamento dos jovens nas questões ligadas aos movimentos sociais e estudantis. Infelizmente, não obtivemos êxito. Enfrentamos fortes resistências da direção do partido, na época. Por isso, estou afastado atualmente”.
O DCE Voz dos Estudantes da PUC Minas tem o Adriano Faria, 24 anos, como conselheiro fiscal. O estudante mantém contato direto com a política, sobretudo porque é o atual presidente da Juventude do Partido da social Democracia (PSDB) em Minas Gerais. “Como no DCE a maioria dos membros tinha filiação partidária, senti que era importante escolher um partido. Decidi conhecer o PSDB, motivado principalmente pela figura do governador Aécio Neves, já que estava no terceiro ano do seu primeiro mandato, e fui muito bem recebido”, explica.
Cerca de 7 mil alunos contribuem para o DCE Renovação do UNI-BH. No mês de abril, foram arrecadados R$14 mil. “Estamos questionando esses números. Penso que há um número muito maior de contribuintes, mas, por uma possível falha no Departamento Financeiro ou na arrecadação do UNI-BH, estamos recebendo um repasse referente a esses alunos, dos quais muitos ainda seriam inadimplentes”, reclama. O valor arrecadado é investido em eventos de confraternização dos alunos, como calouradas, campeonatos de futebol e, em parceria com a coordenação de alguns cursos, em palestras. Para ele, “a maior conquista [do seu mandato] foi em relação às contas. Antes de assumir, o DCE devia R$170 mil. Após dois anos de gestão, conseguimos zerar este déficit”.
O estudante do curso de Ciências Sociais da PUC Minas, Leandro Alves, é o atual presidente do DCE Voz dos Estudantes. Ele esclarece que cerca de 16 mil alunos colaboram com a instituição, arrecadando cerca de R$60 mil por mês. Segundo Leandro, o dinheiro arrecadado é importante para manter a representação estudantil e realizar projetos sociais.
Uma das alunas representadas na PUC Minas, a estudante do curso Ciências Econômicas, Gabriela Santos, acredita que o DCE se preocupa com os projetos sociais além do meio em que está inserido. Como no caso do Haiti, “durante a primeira quinzena de Fevereiro, estavam recolhendo alimentos para serem doados as vitimas da tragédia do Haiti”, relata.
O presidente do DCE PUC Minas participa da Juventude do PSDB apesar de não ser filiado. Ele explica que, na gestão de um DCE, é necessário, de alguma forma, o engajamento no meio político para que consiga alcançar objetivos maiores. “As olimpíadas universitárias que fizemos em parceria com o CENUIR que é o Conselho Universitário criado por várias universidades de Belo Horizonte. Todo o orçamento foi arcado pelo Governo do Estado através da Secretária de Esporte. Foi uma articulação política nossa que deu resultado”, cita.

Para a professora de Ciências Políticas do UNI-BH, Odila Valle, não há “mal algum em um aluno que participa de diretórios acadêmicos se filiarem a partidos políticos, desde que essa influência não seja algo que controle uma manifestação de âmbito em geral”.