segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

A vida difícil em um hospital

Os dias em um hospital são de cortar o coração. É nesse ambiente que reconheço a palavra solidariedade, principalmente porque papai, a quem eu acompanhava durante as noites, estava internado na infernaria da Santa Casa.

Para quem nunca entrou nesse setor, vou contar um pouco do que vi ali. Lembro-me de um quarto retangular e desprovido de cor - só vemos em grande maioria o branco nas camas e nas paredes. Ao todo, são seis camas no ambiente, sendo que uma fica de frente para outra. 

Se considerarmos a cadeira do acompanhante, que é o único ponto de cor no quarto, sendo um verde pastel, quase não há espaço para passagem dos pacientes e muito menos dos acompanhantes. 

Papai ficou internado na Santa Casa de Belo Horizonte por quase três semanas. Todos os dias ele contava com acompanhante. Nunca deixamos ele sozinho. Nos desdobrávamos entre ficar com ele e fazer companhia para mamãe, quando ela não estava no hospital. 

Diferentemente do que papai vivia, os outros pacientes não contavam com acompanhante em tempo integral. 

Como era difícil ver que alguns deles não conseguiam nem se mexer na cama, em muitos casos fruto de uma paralisia. Outros pacientes tinham dificuldades de locomoção devido à idade avançada. E esses passavam boa parte do tempo sozinhos. Fácil não era. 

Nas vezes em que fiquei com papai, ajudei um ou outro a tomar água, a abrir o saco de pão, que é entregue no café da manhã, e a calçar os chinelos. 

O que fiz foi pouco. Esse tipo de ajuda poderia ter sido concedida por qualquer outro, mas o que esses pacientes mais queriam era alguém pra conversar sobre a vida deles, para compartilhar as lembranças guardadas e para receber um abraço apertado que passasse segurança e consolo. 

A vida em um hospital pode mostrar muito mais do que nós pensamos.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

A vida do avesso

Outro dia estava pensando em como a vida nos prega algumas peças. Por exemplo, papai sempre foi saudável. O máximo que já o vi doente era quando ele pegava uma gripe.


Nesse caso, ele sempre ia no quintal e buscava uma erva cidreira, fazia um chá e tomava a noite, antes de ir dormir, com uma pílula de aspirina. Era tiro e queda. No outro dia estava melhor.


Há três meses, no entanto, nossas vida viraram do avesso. Papai, que há um tempo vinha reclamando de cansaço, descobriu que estava sofrendo de arritmia. A doença fazia com que o coração batesse irregularmente.


Ficamos pensando o que teria provocado essa doença e o médico esclareceu que ela é resultado de entupimento de veias por gordura, o que evita o fluxo contínuo de sangue para o coração.


A descoberta da arritmia mexeu com papai, mas nos deixou sem chão. Mesmo estando abalado, o chefe da família, como brincamos, se mantinha forte. A preocupação era se manter inabalado para cuidar da esposa e dos três filhos, quase todos casados.


Que ironia. Nós que deveríamos estar preocupados em mantermo-nos firmes para dar força pra ele e é exatamente papai que nos dá colo.


Foi essa força dele e a fé de mamãe que nos deixou firme. Fomos aos médicos, nos revezamos entre hospital e a casa do papai. Foram semanas intensas, angustiantes. Mas, no fim, ele saiu do hospital. Voltou como entrou, firme.


A luta agora é para mantermos assim. Fora do hospital é mais fácil porque sempre achamos que a nossa casa é o melhor remédio. Nosso desejo é que dias melhores venham e iluminem nosso lar.



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