Os
dias em um hospital são de cortar o coração. É nesse ambiente que
reconheço a palavra solidariedade, principalmente porque papai, a quem
eu acompanhava durante as noites, estava internado na infernaria da Santa
Casa.
Para
quem nunca entrou nesse setor, vou contar um pouco do que vi ali.
Lembro-me de um quarto retangular e desprovido de cor - só vemos em grande maioria o
branco nas camas e nas paredes. Ao todo, são seis camas no ambiente,
sendo que uma fica de frente para outra.
Se
considerarmos a cadeira do acompanhante, que é o único ponto de cor no
quarto, sendo um verde pastel, quase não há espaço para passagem dos
pacientes e muito menos dos acompanhantes.
Papai
ficou internado na Santa Casa de Belo Horizonte por quase três
semanas. Todos os dias ele contava com acompanhante. Nunca deixamos
ele sozinho. Nos desdobrávamos entre ficar com ele e fazer companhia
para mamãe, quando ela não estava no hospital.
Diferentemente do que papai vivia, os outros pacientes não contavam com acompanhante em tempo integral.
Como
era difícil ver que alguns deles não conseguiam nem se mexer na cama,
em muitos casos fruto de uma paralisia. Outros pacientes tinham dificuldades de locomoção
devido à idade avançada. E esses passavam boa parte do tempo
sozinhos. Fácil não era.
Nas
vezes em que fiquei com papai, ajudei um ou outro a tomar
água, a abrir o saco de pão, que é entregue no café da manhã, e a calçar os chinelos.
O
que fiz foi pouco. Esse tipo de ajuda poderia ter sido concedida por
qualquer outro, mas o que esses pacientes mais queriam era alguém pra
conversar sobre a vida deles, para compartilhar as lembranças guardadas e
para receber um abraço apertado que passasse segurança e consolo.
A vida em um hospital pode mostrar muito mais do que nós pensamos.