domingo, 30 de outubro de 2011

SABOR QUE VEM DA SERRA

O melhor lugar da casa para um mineiro é a cozinha. É lá que amigos, familiares e até mesmo profissionais se reúnem. É impossível chegar à casa de um mineiro e não tomar um café passado na hora e comer um pãozinho de queijo. Tradição típica do povo das Minas, esse é um ato que representa amor e respeito pela comida regional.

É na cozinha que a vida mineira se transmite e se revela em suas mais variadas influências. E tudo acontece numa espécie de mistura entre ingredientes africanos, portugueses e indígenas. É através da comida que a história de Minas e do País se revela, trazendo até o paladar do comensal épocas como a do ciclo do ouro, das pedras preciosas e lugares como Ouro Preto, Diamantina e Sabará.

O feijão tropeiro, por exemplo, era feito pelos homens encarregados do transporte do ouro desde as minas até a capital do País, o Rio de Janeiro. Era justamente nas paradas feitas durante a viagem que os tropeiros preparavam seu feijão de uma maneira bem simples. Outro exemplo é o pão de queijo, que se tornou um símbolo das reuniões em família. E, assim, as receitas são passadas de geração em geração.

As reuniões familiares são banquetes extraordinários que muitas vezes contêm frango ao molho pardo, carne de porco, feijoada, arroz combinando com tutu, quiabo, couve e laranja fatiada. Quase todos os pratos da cozinha mineira contam com legumes, frutos ou tubérculos colhidos, muitas vezes, ali mesmo, no quintal de casa.
Maria Fonseca é dona de casa, nascida na Bahia e criada em Minas Gerais. Ela se diz apaixonada pela comida mineira. Aos domingos, a família se reúne na casa de dona Maria para o almoço. Ela explica que não tem nada melhor que cozinhar. “Eu me sinto feliz em poder cozinhar para meus familiares e ver que eles se sentem bem comendo minha comida. É como se eu passasse um pouco do carinho que sinto por eles através dela”, relata.

Micheline Fonseca é filha de dona Maria. Casada, ela conta que aprendeu com a mãe a fazer pão de queijo e que, em sua casa, a iguaria não pode faltar. “Nas reuniões do meu trabalho, todos perguntam sobre o pão de queijo, as pessoas não acreditam que sou eu mesma quem faz”, explica. Ela diz ter amigos de outros estados como São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro e fala que, sempre que eles vêm até Minas, voltam com a bagagem cheia dos sabores da terra. “Meus amigos vêm me visitar e, quando vão embora, levam na mala biscoito de polvilho”, conta.

A Cozinha Mineira seduz principalmente pelo aroma. E ele nunca sai da memória de quem já sentiu a presença no olfato de um feijãozinho imerso em temperos, do torresmo saltando em pururuca numa velha travessa de ferro, da linguiça que toma forma com seu principal tempero, a paciência, e onde as panelas aguentam horas sobre o calor, para que as carnes se impregnem de sabores e liberem os aromas que calam fundo na memória de quem já passeou pelos caminhos da Minas.

A sobremesa não fica para trás, você pode escolher o que quer comer, são várias opções de doce caseiro. Entre eles, o tradicional Romeu e Julieta, a combinação do queijo fresco de Minas com a goiabada. Mas tem também o doce de leite da cidade de Viçosa, pentacampeão categoria no Concurso Nacional de Produtos Lácteos. E o doce de cidra, e o doce de laranja, o de mamão, a bananada, entre muitos outros.

Leopoldo da Silva é vendedor de doces no Mercado Central há mais de 20 anos. Ele explica que compra os doces para revender em sua loja. E diz ser impossível comprar um doce que não seja fabricado em Minas. “Não tem como confiar nos doces lá de fora. Os que são fabricados em Minas possuem um sabor diferente”, afirma.

Mas não fica por aí. Após o almoço e a sobremesa, ainda é servido um cafezinho do sul de Minas com queijo fresco.

O queijo de minas é um caso a parte. Ele é um dos queijos brasileiros mais antigos. Estima-se que sua fabricação tenha se iniciado no século XIX, registrada na introdução do gado de leite em Minas Gerais, na época das minas do ouro e dos diamantes. A fabricação acontece em fazendas do Estado, que produzem um queijo macio, mas seco e firme, com coloração interna branca e uma casca fina amarela. Seu sabor é ligeiramente ácido, com algumas olhaduras irregulares. Algumas fazendas do interior de Minas conservam até os dias de hoje o modo artesanal de fabricação do queijo para não perder a qualidade.


Em sua loja, Leopoldo também vende queijos. Para ele, o Minas artesanal contém algo exclusivo. “Pode ser besteira, ou impressão minha, mas não tem como comparar os queijos feitos artesanalmente, eles possuem outro sabor”, garante.

Matéria que produzi para a aula de Redação II.
Professor Edmundo.